Rodrigo Ramthum
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Bigode by Gott
por Rodrigo Ramthum
Queria ter barba. Fosse um barbudo, seria policial ou bandido. Ainda criança, já me arriscava com o barbeador do meu avô materno. Tenho na memória, de forma um tanto quanto vaga, episódio envolvendo um barbeador, um corte no meu rosto e pó de café. Enfim...
Meu pai, já falecido, morreu com uma carteira de cigarros Derby, uma úlcera e um bigode. Um tanto quanto ralo, com largos intervalos entre um fio e outro, mas sem dúvida alguma um bigode! Minha mãe, por sua vez, continua viva e, para alivio meu e de todos os seus convivas, não tem bigode. Prosseguindo...
Sempre quis ter barba. O destino, porém, pregou-me uma peça e não me deu tal adereço facial, herança de nossos ancestrais símios. Tenho uma barba rala, cheia de falhas e imperfeições, tal qual o bigode do meu pai.
Certa feita, respondi a minha filha que meu rosto estava vermelho porque tinha feito à barba. Ela me disse: "mas você não tem barba, pai". Isso me doeu na alma. Deixei minha “barba” crescer por uma semana e apresentei-me diante dela, sem falar nada sobre o assunto. Ela olhou para mim, sorriu e fez o mesmo que eu; não tocou no assunto. Finalizando...
Penso que estou sozinho no mundo. Tentei organizar uma Marcha dos Sem Barba, mas fiquei desestimulado quando vi que não há sequer uma comunidade no Orkut sobre tal assunto. A título de curiosidade, meu avô, citado no início do texto, me disse uma vez que a palavra bigode vinha de “by Gott” [“por Deus”, em alemão]. Ao puxar um pelo, o homem dizia “by Gott”. Não confirmei a versão até hoje. Tenho certo receio de que não seja correta. Prefiro ficar com a (es)história do meu avô. Concluindo...
Queria ter barba. Fosse um barbudo, seria policial ou bandido. Não teria meio termo na minha vida. Como não sou, escrevo. Levo uma boa vida sem ela, é verdade. Mas o fato é que queria ter barba.
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