quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Erros das pesquisas por todo o país...

Escrevi esse texto no calor da eleição para presidente do Brasil, em 2006. Foi durante a apuração do primeiro turno, quando Lula foi para o segundo turno contra Geraldo Alckmim. Não sou filiado a nenhum partido, mas votei em Lula em todas as eleições desde 1998 e,  naquele momento, acreditava, como acredito até hoje, que sua reeleição seria fundamental para o país.

Rodrigo Ramthum

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Erros das pesquisas por todo o país...

23h 48' minutos do dia 01 de outubro de 2006

Acabo de olhar a última parcial do resultado das eleições no site do TSE. Com 95,10% das urnas apuradas, o candidato Lula, da coligação 'Força do Povo', está com 49,09% dos votos válidos. Geraldo Alckmim, da coligação 'Por um Brasil Decente', conta com o apoio de 41,09% dos que foram às urnas neste domingo. Teremos segundo turno. Em números percentuais, a diferença é de apenas 8%. Em números reais, essa diferença é de sete milhões, 246 mil e 266 pessoas. Como resumiu a apresentadora de cabelos longos e sorriso fácil: "Foi uma disputa acirrada!".

O Clichê: "A lição das urnas"

O Brasil disputa sua quinta eleição direta para presidente. Lula esteve em todas e foi eleito em 2002 com 62% dos votos no segundo turno, perdendo para José Serra apenas no estado de Alagoas. Dizer que foi a primeira vez que a direita ficou fora do poder depois de séculos é falar o que todos já sabem. O fato é que Lula foi um marco não só para a história do Brasil mas também para a história da América latina, tão marcada por ditaduras e governos extremistas. Durante o seu mandato, Lula teve atropelos e acertos que cabem apenas ao eleitor julgar. A novidade é que o PT, ao contrário do que se esperava, não conseguiu melhorar a administração pública. Mas isso não chega a ser bem uma novidade. Os erros que foram cometidos nesta gestão não devem nada aos cometidos por Fernando Henrique Cardoso. Só o fato de aprovar a reeleição durante o seu primeiro mandato, mudando assim as regras do jogo, já prova isso.

O certo é que Lula cumpriu seu período de quatro anos e, apoiado na lei criada por FHC, se candidatou à reeleição. Outros sete candidatos concorreram contra ele. Outros tentaram, mas foram barrados em disputas internas nos seus partidos. 2006 foi um ano de muito barulho e de muitas pesquisas para medir o ruído.

Em pesquisa realizada entre os dias 20 e 21 de fevereiro de 2006, após a crise da compra de votos, o instituto Datafolha apurou que Lula teria 43% dos votos, seguido por Alckmin com 17% e Antoni Garotinho com 11% -naquele período ainda se cogitava a sua participação no pleito. Heloisa Helena teria 6% e Cristovam 1%. O IBOPE, em pesquisa no mês de janeiro deste ano, aferia a Lula 41% dos votos, a Alckmin 18%, a Heloisa Helena 10% e a Cristovam 2%. Bem medido e bem pesado, a mesma coisa que o Datafolha. A única diferença é que ao invés de cometer o mesmo erro que o concorrente, o IBOPE foi além e trouxe para a disputa Germano Rigotto, que teria naquela época 3% dos votos...

Existem quatro grandes institutos de pesquisa no Brasil. IBOPE, Datafolha, Sensus e VOX Populi. Eles atuam em várias áreas além das pesquisas eleitorais e empregam uma grande quantidade de pessoas. O problema aqui não são os institutos de pesquisa, mas sim o uso que se faz deles.

Você já deve ter notado quando o âncora engomadinho do jornal das 8 avisa que a pesquisa que ele acaba de divulgar foi encomendada pela Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), por exemplo. Isso significa que esta Federação está interessada no processo eleitoral, por razões que não cabe aqui detalhar, e encomendou a pesquisa junto a algum dos vários institutos de pesquisa disponíveis. Saiba que qualquer uso que se faça dessa pesquisa encomendada, seja na elaboração de uma simples estratégia comercial, seja na sua divulgação no jornal das 8 com o âncora engomadinho, estão atreladas a esse interesse, da Federação das Indústrias de São Paulo, no processo eleitoral. Ou seja, a pesquisa serve a quem pagou por ela, da maneira que o comprador achar que lhe convém.

Enfim, para fechar a urna. Ou melhor, a questão!

As últimas pesquisas para o governo do Rio Grande do Sul apontavam uma vitória já no primeiro turno do atual governador Germano Rigotto. A surpresa veio nas urnas. Rigotto teve 1331 vezes mais votos que o "Engenheiro Pedro Couto", da Social Democracia Cristã, último colocado na disputa. Derrotar um cristão, embora seja uma tarefa nobre, não foi o suficiente para levar o atual governador nem ao segundo turno do pleito. Este será decidido entre Yeda Crusius, do PSDB, e Olívio Dutra, do PT. A pesquisa falhou. Poderia ter acertado, mas não acertou. Isso me leva a crer que exista sempre a possibilidade do erro ser maior do que a margem apresentada de 2%. Isso me mostra que as pesquisas podem ser manipuladas. Isso nos remete ao desfecho da história.

O desfecho:

Outro ponto que chama a atenção é o estado da Bahia. Para ser curto e grosso, as pesquisas de opinião davam vitória já no primeiro turno ao governador Paulo Souto, do PFL. De fato a disputa se encerrou no primeiro turno, mas com a vitória de Jaques Wagner, do PT, com 55% dos votos. Os jornais noticiaram a vitória do petista baiano com sendo "surpreendente e imprevisível". Será?
Outro dado curioso são as pesquisas da disputa presidencial por regiões. Lula, segundo elas, só venceria no norte e no nordeste. Os estados do sul, sudeste e centro-oeste, mais ricos e cultos, estariam apoiando Alckmin. Na opinião dos especialistas, o povo brasileiro estaria dividido: as três regiões mais ricas e com melhor escolaridade apoiariam Alckmin. As duas regiões mais pobres, portanto alheias aos escândalos de corrupção, votariam a favor de Lula. Ok. Senão vejamos...

Lula de fato tem maioria esmagadora nas regiões norte e nordeste. Na região sul temos os estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. No primeiro Alckmin leva vantagem, no segundo ficam ambos, Lula e Alckmin, na casa dos dois milhões de votos, com leve diferença para o tucano. No Rio Grande do sul, como foi dito, haverá segundo turno para governador com o PT na disputa, o que, além de contrariar as pesquisas, mostra também a força de Lula no estado. Já na região Sudeste, tenho de reconhecer, a vitória é mesmo de Alckmin. Mas tem um detalhe que não pode deixar de ser mencionado: a região sudeste possui quatro estados. Lula venceu em três deles.

Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em todos Lula venceu a disputa com Alckmin. O Geraldo vence apenas em São Paulo. O slogan da coligação do tucano é "Por um Brasil decente". Realmente São Paulo elege seus representantes pensando na decência e na ética. Não é a toa que Paulo Maluf acaba de ser eleito o deputado federal com mais votos pelo estado de São Paulo. Isso é decência! Os paulistas também elegeram Clodovil para deputado. Isso, com o perdão do trocadilho, é indecência mesmo. Agora olhe para a lente da verdade e responda: Quem está com a 'Força do Povo'?

Rodrigo Ramthum

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