sexta-feira, 18 de abril de 2014

Despedida...

Texto sobre a morte da minha cadela Shenna. Escrevi em uma hora, chorando pra caramba, e não revisei. É isso...

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Despedida...

Olá, negona. Os últimos dias foram agitados, não é verdade? Sintomas, doença, remédios, soro na veia, cirurgia, mais remédios, mais soro na veia, enfim, uma série de efeitos colaterais do amor que nós sentimos por você. Amor, esse, que nos fez lutar até o último instante para que você permanecesse conosco, com sua presença adorável.

Te conheci pequena, com pouco mais de um mês, se tanto. Inicialmente, você era do meu sobrinho Ricardo, mas, em uma transação que envolveu uma bola de futebol e pressão psicológica, terminei por me tornar o seu “dono”. Não me esqueço dos seus primeiros dias na nova casa. Dormia comigo, no meu quarto, e lá mesmo cagava e mijava, além de roer meu tapete de palha e comer uma ou duas bitucas de cigarro, no que foi prontamente repreendida! Não adiantou. Anos mais tarde, joguei uma bituca acesa pela janela da sala e, segundos depois, escutei o teu gritinho de dor por ter tentado engoli-la.

Ah, como você era um perfeito desastre. Conforme crescia, maior ficava seu desengonço frente as tarefas mais simples. Pulava em todo mundo, esbarrava em mesas e cadeiras, mas nunca avançava nos nossos. Você foi uma dama, minha Sheninha. Não mordeu ninguém, não tinha índole violenta e aturou todas as festas que nossa família realizou ao longo desses anos; e não foram poucas.

A sua obediência era singular! Bastavam dois tapas na minha coxa para que você entrasse na cozinha, e cinco horas de perseguição para que saísse dela. Adorava quando você me levava para passear, me arrastando pelas ruas e me fazendo passar vergonha com aqueles toletes imensos e tsunamis colossais durante seus alívios em público. Ah, o que eu não daria por um último passeio...

Mas, seguindo com esse modesto relato dos mais de 12 anos que tivemos juntos, o tempo foi passando. Vieram os amigos da universidade, as garotas, as farras, a madrugada e, de uma maneira ou de outra, você sempre me acompanhou. Quando chegava chapado de alguma festa, sempre ia te fazer um carinho antes de ir dormir. As vezes, você gostava. Em outras, me olhava com uma expressão que dizia: “Qual lé, cara? Eu também te amo, mas vai dormir!”. E eu sorria pra você e você me perdoava. Aliás, você sempre perdoou minhas idiotices. Ah, minha amigona!

Você me viu chorar, me viu dormir, me viu vomitar bêbado (e mordeu meu pé uma vez!), me viu comemorar, lamentar, enfim, você me viu como de fato sou. Nos últimos anos, veio o casamento. Eu me mudei, mas sempre que podia ia te visitar. Quando estava próximo da casa da sua avó Hildete, sempre dava uma passada na rua pra ver se estava tudo em ordem, e as vezes você estava lá no portão. Dói muito saber que isso nunca mais vai acontecer.

Quando usei aspas na palavra dono é porque você foi muito mais pra mim do que mera propriedade. Você foi uma filha, uma amiga, uma parceira. Ontem, dia 15 de abril de 2014, você nos deixou. A vida tem dessas surpresas. Você partiu, mas, dentro de poucos dias, seu irmãozinho vai nascer. Infelizmente, ele não irá conhecê-la. Mas vou contar histórias a seu respeito, de como você me fez feliz e cuidou de mim, me dando carinho e amor incondicionais. Vá em paz, minha negona. Vou me lembrar pra sempre de você, do seu redemoinho no pescoço, das marquinhas nas patas traseiras, da máscara branca que ia do focinho até a nuca, do seu rabinho balançando e do barulho que você fazia quando bebia água; lembranças adoráveis de uma época muito feliz da minha vida.

Sigo em frente, Shenna, pois outras pessoas que amo contam comigo. Mas saiba que tenho sentido muito a sua perda, nega. Você deixou um grande vazio. Paro por aqui, pois li algo sobre danos que lágrimas em excesso podem causar nos teclados. Piadinha sem graça, né? Eu sei. Mas é que a tristeza pela sua perda ainda é muito grande. Eu te amo.

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