Atualização (16/07/2013) - O texto abaixo foi publicado no site Observatório da Imprensa e também pode ser lido clicando aqui.
-------------------------------------------------------------------------
Estabelecer uma sequência lógica dos fatos e entender o que representa o levante popular iniciado há um mês, no dia 06 de junho de 2013, é tarefa complicada, especialmente se levarmos em conta que tudo ainda é muito recente e os desdobramentos estão ocorrendo. Comecei a trabalhar nesse texto por volta do dia 15 de junho e, a cada dia, novos acontecimentos mudavam o rumo das minhas ideias e novas possibilidades surgiam ao longo do processo. Impossível ater-me a duas, três páginas. Tal fenômeno não se repete anualmente e era preciso registrar cada aspecto que possa, no futuro, auxiliar numa melhor compreensão do momento atual. Eis minha visão sobre o tema:
-------------------------------------------------------------------------
Estabelecer uma sequência lógica dos fatos e entender o que representa o levante popular iniciado há um mês, no dia 06 de junho de 2013, é tarefa complicada, especialmente se levarmos em conta que tudo ainda é muito recente e os desdobramentos estão ocorrendo. Comecei a trabalhar nesse texto por volta do dia 15 de junho e, a cada dia, novos acontecimentos mudavam o rumo das minhas ideias e novas possibilidades surgiam ao longo do processo. Impossível ater-me a duas, três páginas. Tal fenômeno não se repete anualmente e era preciso registrar cada aspecto que possa, no futuro, auxiliar numa melhor compreensão do momento atual. Eis minha visão sobre o tema:
O início
O Brasil vive um momento histórico. Após alguns protestos isolados, no início do mês de junho, por conta do aumento no preço das passagens de ônibus em algumas capitais, entre elas o Rio de Janeiro, Goiânia e São Paulo, o país se depara com uma onda generalizada de manifestações por todo o território nacional. Na capital paulista, epicentro dos recentes acontecimentos, os atos começaram no dia 06 de junho, uma quinta-feira, em razão do aumento de R$ 0,20 (vinte centavos de real) no preço da passagem de ônibus.
Protestos por conta do aumento na tarifa do transporte público não chegam a ser bem uma novidade em terras brasileiras. As primeiras ações pelo transporte gratuito em São Paulo começaram ainda em 2004, inspiradas em iniciativas ocorridas em Salvador (Revolta do Buzú, em 2003) e Florianópolis (Revolta da Catraca, em 2004). A bem da verdade, de acordo com uma publicação na página Arquivo Estadão, no Facebook, mantida pelo jornal O Estado de São Paulo, as manifestações por conta do aumento de tarifa no transporte público remontam à década de 1950, quiçá antes disso. Com a manchete “A Cidade Conflagrada Pelo Aumento de Tarifas; Choques Entre a Polícia, Agitadores e Populares (sic)”, o jornal noticiava o protesto contra o aumento da tarifa de ônibus e bondes, que deixou quatro mortos no dia 31 de outubro de 1958. No canto esquerdo inferior da página, a foto de um ônibus em chamas. Dito isso, voltemos aos protestos atuais.
Sim, o motivo inicial do levante popular foi o aumento de R$ 0,20 no preço da passagem de ônibus na capital paulista. Considero esse fator determinante para os desdobramentos que estamos presenciando atualmente. O “irrisório” valor do aumento, somado à depredação do patrimônio público durante os protestos, motivaram uma série de críticas vindas da imprensa, analistas e parte da opinião pública, incluindo o autor deste texto. Como expoente das críticas feitas aos manifestantes, podemos colocar Arnaldo Jabor. O comentarista da rádio CBN foi contundente em sua análise dos protestos em São Paulo no dia 13 de junho. Com o título “Revoltosos de classe média não valem 20 centavos”, Jabor exagerou no tom e, quatro dias depois, na segunda-feira (17), utilizando o mesmo espaço diário que tem na CBN, retratou-se com um mea culpa intitulado “Amigos, eu errei. É muito mais do que 20 centavos”.
Convém registrar que o Jabor não foi o único formador de opinião a manifestar-se contrário à motivação dos manifestantes paulistas, tão pouco as Organizações Globo, da qual a Rádio CBN faz parte, foi a única a adotar um tom crítico no início dos protestos. O fato é que foram justamente essas críticas que motivaram uma mudança crucial no tom dos atos públicos. Os populares passaram a adotar como mote a frase “Não é só por 20 centavos [de real]”, despejando uma série de reivindicações, frustrações, anseios e, por que não, esperanças em cima dos governantes. Começava ali um movimento que iria tomar conta do país.
#VemPraRua
O dia 13 de junho marca o instante em que a população brasileira deu os primeiros indícios daquilo que viria a ser, e ainda o está sendo, o maior levante popular desde o impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992. Houve protesto em São Paulo naquele dia 13, o quarto não consecutivo (os três primeiros foram nos dias 6, 7 e 11), mas, ao contrário das manifestações anteriores, as cidades de Maceió, Natal, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Santarém e Sorocaba também registraram protestos que pediam desde a redução da tarifa de ônibus, casos do Rio de Janeiro e Porto Alegre, por exemplo, até coisas mais gerais como o fim da corrupção, o boicote à Copa das Confederações e, acredite, a saída de Hulk e a entrada de Lucas no escrete canarinho.
Nos dias subsequentes, foram registradas manifestações em algumas cidades, incluindo Brasília, onde houve protesto no dia 15 de junho por ocasião da abertura da Copa das Confederações, com o jogo entre Brasil e Japão. A bem da verdade, um outro protesto foi organizado nas imediações do Estádio Nacional Mané Garrincha no dia 14, véspera do jogo, mas, ao que tudo indica, foi uma ação de grupos locais e não possui o menor vinculo com as manifestações que estão aqui sendo analisadas. O fato é que cerca de 500 pessoas saíram, no dia do jogo, das proximidades da rodoviária do Plano Piloto em direção ao estádio. Houve confronto com a polícia, que dispersou os populares com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, além de spray de pimenta e balas de borracha.